Que vazio mais incerto...
7h a.m.

O insuportável Triiiiiiiiiiiim do despertador toca e mais uma vez uma estranha mão vinda sabe-se lá de onde voa na direcção dele para o atirar para outra realidade! Abro os olhos mas não tenho coragem de olhar em volta!

As paredes do quarto são brancas, transmitindo a frieza de quem lá dorme! Brancas? Porque será que todas as pessoas gostam de paredes brancas? Falta de toque pessoal...

Sinto um pé a tocar-me! Agora o joelho! Oh não!, a perna estranha entrelaça-se na minha... Um arrepio. Agora um braço agarra-me e joga-me como um dado adquirido contra um peito irreconhecível e ameaçador, mas quente! O paradoxo essencial, o yin e o yang! Querer e não deixar querer! Viro-me na sua direcção! Assim, de olhos semiabertos, encontro-me na impossibilidade de o reconhecer! Espera! O cheiro! Que cheiro é este? É-me familiar! Dou dentadas no pescoço estranho! Abraço-o e trinco-o quase em simultâneo! Fico presa a um intenso desejo de querer cada vez mais e lanço-me na odisseia de descobrir aquele corpo mais uma vez, como se fosse sempre a primeira! O cheiro! Esse maldito cheiro transporta-me para a realidade quando já estou em pleno êxtase!

És tu! No teu quarto de paredes brancas, onde muitas mulheres se afogaram em prazer e depois em desespero! O teu cheiro! Um misto de suor e água de colónia! Cheiro o sexo! Cheiro o prazer! Saboreio o sal das minhas lágrimas enquanto me abraças depois do orgasmo! Porque a seguir vais levantar-te, e depois do duche já nem sequer me olhas.

Odeio-te porque não me amas, e cada lágrima que derramas é fruto do teu ser: mesquinho, fútil, mas irresistivelmente, irresistível!

<< Voltar